
A pergunta não é apenas sobre tecnologia, mas sobre sentido coletivo em tempos de individualização extrema.
Os sindicatos nasceram como resposta à exploração e à desigualdade, mas hoje enfrentam uma encruzilhada: como se manterem relevantes num mundo onde os vínculos de trabalho são mais fluidos, a representatividade é questionada, e a noção de solidariedade é constantemente fragmentada?
A desatualização das estruturas sindicais, muitas vezes burocratizadas e distantes da base, alimenta o defasamento da figura do sindicato na sociedade contemporânea. Muitos trabalhadores, especialmente os mais jovens e os inseridos em setores mais dinâmicos não se sentem representados, ou sequer compreendem o papel das entidades. E a culpa disso não é só da reforma trabalhista do governo Temer.
Soma-se a isso uma grave crise de sucessão sindical. Onde estão as novas lideranças? Como atrair quadros comprometidos, com legitimidade e capacidade de diálogo com diferentes gerações de trabalhadores?
O desafio da sustentabilidade das entidades de classe vai além do financiamento: trata-se de repensar o seu propósito, a sua forma de atuação e sua presença nos territórios físicos e digitais. Sindicatos que não dialogam com a base, não inovam e não se posicionam com coragem diante das pautas contemporâneas, tendem ao esvaziamento.
Ao mesmo tempo, direitos históricos vêm sendo corroídos muitas vezes sob o discurso da “modernização”. A luta por direitos não acabou; ela apenas se deslocou para novos campos: saúde mental, racismo estrutural, inteligência artificial, trabalho por demanda, jornada sem fim.
A retenção de mão de obra e a atratividade trabalhista também se tornaram temas sindicais. Sim, porque trabalhadores permanecem onde se sentem respeitados, seguros e escutados. E os sindicatos têm papel crucial em construir essas condições não apenas como opositores das empresas, mas como agentes de construção de um mercado de trabalho mais justo e equilibrado.
O futuro dos sindicatos exige inovação política, organizacional e simbólica. Mais do que adaptar ferramentas, é necessário resgatar o espírito de comunidade, reocupar o espaço público e disputar o imaginário sobre o que significa trabalhar com dignidade no século 21.
O que está em jogo não é só a sobrevivência dos sindicatos, é o futuro do trabalho com justiça.
Estéfano Rezende é executivo de negócios da Central dos Benefícios.