Representatividade, política e sustentabilidade financeira: os pilares da luta sindical hoje, segundo Wanderson Epifânio, presidente do Sttrop

Wanderson Epifânio da Silva, presidente do Strrop

Resgatar o diálogo com os trabalhadores, ficar atento aos movimentos político-partidários e buscar a sustentabilidade financeira. Esse tripé é o pilar da luta sindical nos dias de hoje na avaliação de Wanderson Epifânio da Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários (Sttrop) de Ouro Preto com base em Mariana e Itabirito e presidente da Nova Central Sindical de Minas Gerais.

Em entrevista ao portal Ponto Central, ele falou sobre os desafios e perspectivas do movimento sindical frente às transformações do mundo do trabalho. Analisou temas como a contribuição sindical, os impactos da reforma trabalhista, a importância da representatividade de base e o papel das centrais sindicais na luta por direitos.

Com trajetória de liderança marcada pelo diálogo e pelo compromisso com os trabalhadores e trabalhadoras do setor de transportes, Wanderson defende a modernização com responsabilidade social e a necessidade de construir pontes entre o setor produtivo, os profissionais e o poder público. Destacou a parceria com a Central dos Benefícios como um grande projeto para o setor de transportes, devido à chance de levar mais benefícios ao trabalhador.

O que os sindicatos podem fazer para se fortalecerem como categoria?

Buscar dialogar com os trabalhadores (as). Há um distanciamento muito grande em virtude do engajamento da sociedade mundial na internet, globalização e redes sociais. E aí distancia muito o sentimento de representação de classe. Em síntese, precisamos resgatar o diálogo, fazer um trabalho na base, nas portas das garagens, realizar boas negociações coletivas e esperar que com isso a gente desperte o sentimento de categoria, de aproximar da entidade de representatividade.   

Quais os principais desafios que as estruturas sindicais enfrentam hoje?

É a flexibilização da suposta nova realidade da prestação de serviço. A gente não vê nenhuma expectativa de curto ou médio prazo de uma política que traga mais equilíbrio entre a classe patronal e o setor econômico com o profissional, o laboral. Temos que buscar estratégias. Ficar atento aos movimentos através das eleições político-partidárias para que possamos colocar pessoas nas esferas do Legislativo, nas Câmaras Municipais, no Senado, na Câmara Federal. Buscar até, quem sabe, o presidente da República através da categoria de trabalhadores. Apesar de o nosso presidente ser da categoria de trabalhadores, não estamos sentindo com muito fervor que a política esteja buscando uma igualdade entre a minoria perante o setor econômico.

Você é a favor da contribuição sindical compulsória ou facultativa? Por que?

Depois da reforma trabalhista, a lei 13.467 deixou a contribuição sindical facultativa. Vivemos em um país capitalista. Se não fosse assim, não sei como seria a sociedade. Temos que pagar impostos para ter uma contrapartida de prestação de serviço pelos nossos gestores públicos. Sem dinheiro é muito difícil trabalhar. O que a gente busca como autonomia financeira é fazer parcerias onde a gente consiga buscar uma contrapartida financeira dentro da moralidade e legalidade para as entidades sindicais.  A gente precisa buscar o caminho da sustentabilidade financeira das entidades sindicais.  Aqueles sindicatos que ficavam inertes, esperando o dinheiro cair compulsoriamente, não terão sobrevida.  Aí acontece como agora recente, com a cassação de várias cartas sindicais.

Wanderson Epifânio da Silva, presidente do Strrop

Quais as perspectivas para a categoria rodoviária para os próximos anos?

As perspectivas não são das melhores, porque a gente viu a perda dos postos de trabalho dos auxiliares de viagens, a automação através da internet, os equipamentos de ônibus e caminhões com cada vez mais tecnologia. E não temos salário. É preciso que a gente constitua uma comissão entre federações e confederações, para que a gente possa dialogar com o governo federal e estadual para buscar uma alternativa para modular uma melhor remuneração para os profissionais do volante. Mas é preciso envolver o governo, o setor econômico e o profissional para que a gente possa buscar uma nova safra para o setor de transportes.  

O comissionamento faz com que exista uma fadiga do trabalhador (a), que acaba optando por ter uma jornada mais extensa de trabalho para ter uma melhor remuneração. Então o comissionamento, no nosso ponto de vista, que está aí na lei 13.103/2015 e potencializada na 13.437, não sei se buscou uma nova realidade de trabalho. Os representantes dos trabalhadores estão atentos, através da nossa Federação dos Trabalhadores de Minas Gerais, e fazendo o nosso dever de casa. E estamos tendo êxito, com reajuste maior do que a inflação, e avançando nos nossos benefícios secundários das nossas CCTs e acordos coletivos de trabalho.

 Quais os principais impactos que a reforma trabalhista de 2017 trouxe para a categoria?

 A lei 13.467 item 7 trouxe um impacto maléfico tanto para os trabalhadores como para o setor econômico. Por isso ainda há discussões dentro dos dois segmentos, profissional e laboral. Recentemente foi feita uma modulação do Supremo Tribunal Federal em alguns pontos, que falam do tempo de descanso, jornada entre jornada e modulação da contribuição negocial, tempo de espera. Então houve prejuízo para as duas partes. No entanto, foi movimentada a legislação trabalhista. Como a nossa sociedade não é estática, a gente tem que continuar dialogando com aquelas pessoas que querem dialogar conosco e buscando melhor caminho para que toda parte possa continuar contribuindo com o desenvolvimento econômico do nosso país.

Qual é o papel da Central Sindical na luta pelos direitos trabalhistas?

O papel da Central Sindical, e agora falando como presidente da Nova Central Sindical de Minas Gerais, é criar uma interface, uma simetria entre todos os segmentos econômicos e aproximar o movimento sindical com os setores econômicos. Desmistificar que é um versus o outro. É o mesmo interesse comum. É o desenvolvimento econômico, o equilíbrio social, para fazer com que todos ganhem: o trabalhador, a família, a sociedade, e o setor econômico. Até porque, o setor econômico é formado também por pessoas que necessitam de suas realizações e da sua motivação para continuar dando empregabilidade, tendo motivação de fazer os seus investimentos e, por sua vez, mantendo os postos de trabalho. A Central Sindical é muito importante para apresentar aos parceiros os principais benefícios da nossa CCT, como o cartão de alimentação, seguro de vida, plano de saúde, plano odontológico.

A Central dos Benefícios é um grande parceiro estratégico que temos. Está entrando na nossa categoria, explorando esse nicho, essa possibilidade de apresentar, propor e levar mais benefícios para o segmento do transporte, que está sendo muito bem aceito. Então é parabenizar a oportunidade que temos de poder trazer parceiros que têm fidelidade e comprometimento com a nossa categoria.  Um deles é a Central dos Benefícios.