
Ajudar a arrumar a casa, otimizar processos, traçar metas com foco em resultados, facilitar a comunicação e lançar novos produtos. O consultor Rafael Avelar Igino de Oliveira tem mais de 12 anos de experiência em Estratégia, Processos e Pessoas e chega à Central dos Benefícios com muitos desafios. De olho nos indicadores financeiros, que ele costuma chamar de “finances”, Rafael quer criar uma sinergia para que todos coloquem esforços internos na mesma direção. Ao mesmo tempo, preza por criar um ambiente saudável e de oportunidades para usufruir o melhor de cada colaborador.
Em entrevista ao Portal Ponto Central, Rafael detalhou algumas estratégias para fortalecer o negócio da Central e destacou também a importância da boa gestão de pessoas, para que os colaboradores entendam qual é o papel que têm dentro da empresa. “Muitas vezes as pessoas não sabem o que devem entregar”, afirma Rafael, que foi sócio do grupo Aquila e atuou na Falconi, as duas maiores empresas de consultoria brasileiras.
Quais as dificuldades que as empresas enfrentam atualmente na gestão organizacional?
Todas as empresas têm desafios com pessoas e processos, como fazer com que a estratégia que é desenhada no grupo chegue até a operação. É natural que exista uma dificuldade para vencer essa barreira de comunicação. Mas uma pesquisa da universidade de Harvard demonstrou que apenas 5% da estratégia que é desenhada no topo chega na operação de fato. Esse é um número alarmante, um desafio de escala global. O desafio é conseguir vencer essa comunicação para que esse índice de 5% cresça para 50%, 60%,70%… Isso vai acabar se transformando em resultado financeiro. Porque quem entrega resultado financeiro é a operação. E é preciso uma boa liderança para entender dessa comunicação, para que tire do papel e não perca tempo com retrabalhos ou outros assuntos que podem desperdiçar energia de transformar os resultados.
Esse desafio vale para as empresas de todos os portes?
Sim. Muitas vezes as pessoas não sabem o que devem entregar. Essa mesma pesquisa de Harvard mostra que apenas de 7% a 10% dos colaboradores entendem o papel deles na instituição. Mas essa não é uma falha exclusiva do colaborador. É uma falha do negócio da empresa. Se todos entenderem a sua função dentro da engrenagem, o resultado tende a ser maior e perene. Esse é um desafio grande.
Qual é o papel das lideranças nesse processo?
O papel do líder é criar a sinergia para que todos coloquem esforços na mesma direção. Se a gente tem líderes entendendo o futuro da Central dos Benefícios de forma distinta, por exemplo, cada um pode remar com uma boa iniciativa e tentar agregar o melhor, mas para direções distintas. Em algum momento isso pode se chocar. E na soma dos vetores isso acaba sendo nulo. O que não é gerenciado e mensurado não pode demonstrar resultados. A ideia é que todos os objetivos venham da liderança e sejam distribuídos entre os líderes com indicadores claros de resultado. Esses resultados técnicos que vão conversar com os indicadores financeiros. Pois no fim das contas, é o “finances” que vai deixar o negócio perene. Mas para se chegar ao “finances”, precisa-se de bons resultados técnicos dentro da operação. De nada adianta eu ter uma empresa robusta, no melhor cenário para os colaboradores, se ela não extrai resultados. Ela estará fadada ao insucesso.
Quais as tendências que você enxerga no mercado de gestão empresarial nos próximos anos?
Como tendência, o uso não só da Inteligência Artificial, como de tecnologia, para deixar alguns processos mais fluídos, menos dependentes de pessoas. O grande desafio é conseguir que as pessoas extraiam o melhor delas em assuntos que consigam gerar valor. Muito assunto operacional pode ser eliminado ou otimizado com o uso da tecnologia. E a tecnologia tem um diferencial para aquilo que ela consegue exercer, pois ela trabalha de forma ininterrupta para o resultado do negócio. Ela ajuda, de certa forma, o empreendedor e os seus colaboradores a terem um negócio rodando 24 horas por dia, trazendo melhorias para que o negócio tenha resultados ainda mais satisfatórios. A grande tendência é que os processos sejam cada vez mais automatizados.
Alguns profissionais temem serem substituídos pela Inteligência Artificial. Quem vai ganhar ou perder espaço?
Quando olhamos para a história, já sofremos algumas revoluções industriais. E essa automação atual alguns especialistas estão chamando de 4ª Revolução Industrial, onde a IA e a automação estão mudando a forma de trabalhar. Eu não acredito que as profissões ou pessoas devam se sentir ameaçadas. Elas vão mudar a forma de agir. Se for um agir muito operacional, a IA pode competir em espaço. Mas as pessoas vão ter que se adaptar e trazer resultados diferentes. Quando veio a primeira Revolução Industrial, com as primeiras fábricas movidas a vapor, o camponês imaginava que ele perderia espaço. Mas acabou se adaptando e nascendo novos operários trabalhando dentro da indústria. Depois veio uma segunda Revolução com o petróleo, energia elétrica e as fábricas se automatizaram mais e nasceram novas profissões. Nos anos 2000 vieram as empresas “Ponto.com”, que podemos chamar de 3ª Revolução Industrial, que são as grandes empresas hoje de tecnologia. Tinham receio de que algumas profissões antigas morreriam, mas em contrapartida criaram várias novas, principalmente vinculadas à edição de textos e imagens para redes sociais. Tudo isso há 50 ou 60 anos era inimaginável. O que vejo no futuro é que novas profissões vão surgir, como essas vinculadas às redes sociais. Outras vão ter que se adaptar. Por mais que a IA e a automação evoluam com o tempo, nunca irão substituir o julgamento sensitivo do ser humano. Nesse lado de julgamento, de decisão, combinando não só fatores quantitativos como qualitativos, o ser humano nunca vai ser substituído. No fim das contas, no lado quantitativo a IA e a automação podem nos superar, mas no lado sensitivo, está muito longe de isso acontecer. Eu não vejo condição, de uma forma sensitiva, de a máquina conseguir equiparar cenários para tomar uma decisão.
Quais os erros mais comuns que você identifica em empresas quando o assunto é gestão?
Os erros mais comuns são processos concorrentes entre si. E esses processos deveriam ter sinergia para que não fossem concorrentes. Muita atividade é feita por determinado setor, mas na prática está desalinhado com o restante do negócio. Então identificar esse processo e demonstrar que eles não estão agregando o valor é um desafio grande. Muitas vezes as empresas acabam se perdendo em burocracia e quantidade de atividade e têm menos tempo de olhar a atividade que vai trazer resultado financeiro para o negócio. É importante também colocar pessoas certas nos lugares certos. Existem alguns tipos de inteligência e comportamento. Algumas pessoas têm o viés mais matemático, mas outras menos racional, mas com sensibilidade para lidar com gente formidável. Colocar as pessoas chaves nos lugares certos para otimizar esses níveis de inteligência que elas têm internamente é o maior desafio. E a pessoa mal alocada, pode não só comprometer os resultados como atrapalhar a qualidade de vida dela. Quando a gente descobre desse colaborador qual é a sua principal contribuição e o coloca no lugar certo, a tendência é que resultados melhores irão acontecer. Mas identificar isso, principalmente em empresas com inúmeros funcionários, não é tarefa fácil. Por isso que acredito muito em um RH estratégico para mapear o perfil de cada colaborador e onde eles devem estar colocados para trazer melhores resultados. Porque são as pessoas que constroem resultados.
Como a gestão de pessoas pode ser um diferencial competitivo dentro das empresas?
Hoje grande parte dos empresários tem dificuldade de reter talentos. A gestão de pessoas tem não só o viés de identificar e otimizar o resultado de cada colaborador colocando-os nos lugares certo, mas também de reter esses talentos. Práticas que vão melhorar ou equilibrar a qualidade de vida dentro do ambiente de trabalho são de extrema importância. Se a gente pegar em horas úteis, grande parte dos trabalhadores vai passar pelo menos um terço do dia dentro do negócio. Esse ambiente tem que ser saudável e criar oportunidades para extrair o melhor do colaborador. Aí eu não estou falando do colaborador propriamente dito. Estou falando das práticas de RH que vão deixar o ambiente saudável. Quanto mais saudável e favorável for o ambiente, melhor vai ser a entrega do colaborador. Essa boa prática de identificar como melhorar o ambiente é diferencial competitivo nas empresas hoje, não só para retenção como para otimização de resultados.
Qual a importância da sustentabilidade e da responsabilidade social na gestão moderna?
Toda empresa é montada para fomentar uma solução para necessidade de um público final. A marca tem sucesso quando consegue ser admirada. Práticas de responsabilidade e de posicionamento social ajudam a marca a ficar sólida e sustentável. Quanto mais a marca tem sustentabilidade e responsabilidade social, ela tende a ser mais admirada. E marca mais admirada resulta em melhores resultados e vitrine de retenção de bons talentos. Algumas marcas são procuradas por talentos por terem práticas de sustentabilidade e comunicação com o mercado de forma diferenciada, o que traz muito respeito para a marca. As pessoas acabam se sentindo bem por se associarem a essa marca.
O que você pode acrescentar nos processos da Central dos Benefícios?
A primeira ideia é continuar arrumando a casa. Já há algumas iniciativas de otimização de processos, da cultura e do treinamento da empresa. Dentro dessa otimização vou trazer ferramentas e análises para conseguir fazer com que essas implementações sejam disseminadas a todo o grupo colaborativo. No curto espaço de tempo a gente também almeja transformar junto aos líderes um viés de resultados, colocando metas claras e específicas para cada área, que estejam conectadas com o orçamento. Fora isso, como temos uma marca sólida de mais de 20 anos, vamos lançar novos produtos.