O trabalho remoto não é uma novidade exclusiva da era da pandemia. Sua adoção vem crescendo há anos. A proporção de trabalhadores remotos em relação à população ocupada dobrava a cada 15 anos antes de 2020, segundo estudo conduzido por Barrero, Bloom, Buckman e Davis. No entanto, durante a pandemia, o crescimento dessa prática foi equivalente a 30 anos de crescimento pré-pandêmico.
Impulsionado pela transformação digital e pela necessidade de flexibilidade nas relações, o trabalho remoto se tornou realidade cada vez mais presente no Brasil. Essa nova forma de organização do trabalho traz consigo desafios e oportunidades para os sindicatos brasileiros, que precisam se adaptar e encontrar maneiras eficazes de representar e defender os direitos dos trabalhadores remotos.
O volume de pessoas com trabalho híbrido ou em residência no Brasil deu um salto depois da pandemia. A proporção de pessoas que trabalhava em domicílio no país foi de 8,5% em 2022, frente a 5,8% em 2019 e 3,6% em 2016, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que analisou o mercado de trabalho de 2012 a 2022.
Diante desse panorama, as Entidades de Classe desempenham papel fundamental na proteção dos direitos e interesses desses trabalhadores. Um dos desafios enfrentados é a necessidade de adaptar as estratégias sindicais ao contexto virtual, garantindo representação efetiva e abrangente. É crucial que os sindicatos estabeleçam canais de comunicação virtuais, como fóruns e grupos de discussão, para promover a interação entre os trabalhadores remotos, compartilhar experiências e fortalecer a solidariedade entre eles.
Políticas necessárias
Além disso, a negociação de acordos coletivos específicos para o trabalho remoto é essencial. Pesquisas mostram que apenas 33% das empresas brasileiras possuem políticas claras para o trabalho remoto, o que evidencia a necessidade de regulamentação e padronização das condições de trabalho nessa modalidade.
As Entidades de Classe podem utilizar como base modelos internacionais bem-sucedidos, adaptando-os à realidade brasileira e buscando garantir direitos como a remuneração adequada, o direito à desconexão, o reembolso de despesas relacionadas ao trabalho remoto e a proteção social equivalente à dos trabalhadores presenciais.
Outro ponto importante é o fomento à conscientização dos trabalhadores remotos sobre seus direitos e a importância da filiação sindical. Estudos indicam que apenas 22% dos trabalhadores remotos brasileiros são sindicalizados, o que ressalta a necessidade de ações educativas e de formação promovidas pelos sindicatos. Por meio de programas de capacitação, é possível fornecer informações sobre a legislação trabalhista, saúde e segurança no trabalho remoto, negociação coletiva e empoderamento dos trabalhadores, fortalecendo sua posição e garantindo maior representatividade sindical.
Grupos minoritários são impactados
É fundamental que as Entidade de Classe sejam protagonistas na defesa de políticas inclusivas para os trabalhadores remotos. Os estudos mostraram também que grupos minoritários são mais impactados por desigualdades e exclusões no trabalho remoto, tais como mulheres, pessoas com deficiência, identidade de gênero, entre outros. Portanto, as Entidades de Classe são importantes na luta por políticas que garantam a igualdade de oportunidades, a diversidade e a inclusão, evitando a reprodução de disparidades sociais e promovendo ambiente justo e equitativo para todos os trabalhadores remotos.